quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Ao que se quer, ao que se foi e o que não é mais

Lembrou de quando era leve.
E as mãos não ficavam se abanando e nem tinha a necessidade de enfiar-se nos bolsos.
Era leve e saia à noite e de manhã e à tarde.
Jogava xadrez na praça, refletia, lia e flutuava.
Não sentia falta, não faltava à ninguém e sorria.
Se encontrava no olhar dos improváveis dias.
Flertava de soslaio, fazia traquinagem e roubava-se um sorriso tímido.
Daqueles quase indefectíveis, surgindo no cantinho dos lábios.
E seguia leve, ligeiro, certeiro, dedilhando o espaço como se tocasse teremim.
Lembrou de quando era leve, no pensar, no passar e até no pesar.
Brilhava insanamente no reflexo de seus olhos, fértil, infinito.
Não havia cobranças, expectativas, apenas estava ali.
Não havia promessas, sem amanhã, sem ontem.
Leveza apenas, sorriso torpe e a mente vagando.
Era só, tudo, nada, improvável, profundo.
Jogou fora o celular, fechou o livro, sessou a música e deixou o pensamento fluir.
Mergulhou em seus próprios olhos instantes antes de se fecharem.
E lá ficou, eterno, efêmero, feliz.
E seguiu liberto e não precisou de nada além.
E voltou a ser leve.

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