segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Revoluções de Ano Novo - III



Nem todo começo tem um fim...

As janelas do quarto continuam abertas, sem cortinas, mostrando a vista daquele humilde bairro, casas grandes porém incompletas, paredes externas com os tijolos descobertos, ladeiras estreitas mais ao longe e muitas antenas espalhadas para todos os lados, enfeitadas com restos de pipas e emaranhados de rabiolas que um dia reinaram (mesmo que por alguns momentos) nós céus daquela vizinhança.
Umas três ruas abaixo, as luzes dos postes apagados, barulho da molecada na rua, e a euforia carnavalesca da bateria da escola de samba local acordando os pobres mortais que ousaram dormir antes das 21:00.
Um ou dois cachorros na rua de cima começam a cantarolar velhas marchinhas de carnaval, numa incrível sinfonia de latidos, uivos e grunhidos, em pouco tempo a "unidos dos vira latas" já está completa e agora o bairro vê o "bloco da matilha sarnenta" desfilando ruidosamente pelas largas e asfaltadas ruas.
A janela continua aberta, mostrando a lua semi encoberta por espessas nuvens de uma provável chuva que nunca cai.
Do lado de dentro, continuo inerte, debruçado na janela, com vontade de fumar, ouvindo um cd qualquer, pensando que meus três cavaletes de pintura nem sequer tem apoio para as telas que eu ainda não tenho, e que a caixa de pincéis e tintas ainda vai permanecer uns dias guardadas.
As paredes do quarto, brancas e imaculadas, suplicam por uma intervenção insana, mas não ouso sequer tocar no pincel nem ao menos ameaçar um simples rabisco, não agora...
Uma pequena coleção de histórias em quadrinhos precedem a enésima leitura de um ótimo livro, afinal de contas, até para se ler é preciso dum aquecimento...
A mente já aguçada, se delicia nas linhas do livro, enquanto a escola de samba dobra a esquina mais próxima da minha casa, como bom vizinho, interrompo a leitura e vou para a calçada saldar a escola de samba e as belas dançarinas que percorrem o bairro todo sambando e rebolando frenéticamente, algumas delas nem sabem sambar de verdade, ficam apenas exibindo e chacoalhando as ancas, de um lado para o outro, mas como dizem por aí, é disso que o povo gosta é isso que o povo quer...
E todo ano é a mesma coisa, minha rua não tem paralelepídedos para se arrepiar, mas isso não impede a passagem do samba mais popular em mais um aquecimento numa noite de segunda feira...

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Um comentário:

Anastácio Soberbo disse...

Parabéns pelo Blogue.
É muito bonito, gosto do que leio e vejo.
Um abraço desde Portugal