
IMAGEM: Notívagos de Edward Hopper
E aquele dia foi realmente movimentado, dois turnos seguidos, sem comer direito, apenas tomando café em cima de café.
A noite caiu pesada, muito silêncio na rua e resolvi então que era hora de voltar para casa.
Antes é claro, resolvi tomar um último gole de café.
Foi quando a porta se abriu e a vi entrando a passos apertados, com uma fisionomoia séria e preocupada.
Pediu um capuccino, acendeu um cigarro, deu tois tragos e o apagou, seus olhos estavam agora mareados, as olheiras bem acentuadas contrastava enormemente com sua alva pele e seu vestido vermelho.
Eu fiquei um tempo observando-a e era como se ela nem ao menos percebesse que eu estava ali.
Pediu outra xícara de café, dessa vez café preto, sem açúcar.
O barulho da porta desviou a minha atenção.
Um homem alto e com cara de poucos amigos entrava, com passos calmos, coesos, como se estivesse medindo as passadas milimétricamente.
Ele estava bem vestido, com um terno muito bem alinhado, em perfeita harmonia com a gravata, a camisa e o chapéu.
Fumava bastante, pediu uma xícara de café, se sentou ao lado da jovem senhora e colocou seu chapéu sobre o balcão.
Ficaram em silêncio durante alguns minutos, ele estava visivelmente nervoso, acendou outro cigarro e terminou seu café, ficou balançando a xícara na mão, fazendo o restinho do café circular no fundo da mesma.
Ela continuava indiferente, como se estivesse completamente desligada do mundo.
Então o silêncio foi quebrado pela voz dele:
- Não acredito que você fez isso, não acredito mesmo.
- Pode acreditar querido, tenho certeza que daqui a alguns anos você vai me agradecer por isso.
- Impossível, você não tinha o direito de ter feito isso sem me consultar.
- Pois é, a vida é assim, ganha-se umas, perde-se outras, achei que você já era adulto o suficiente para ter aprendido isso.
Ele pediu mais um café, acendeu outro cigarro e colocou o chapéu de volta na cabeça.
Ela se levantou e saiu.
Eu continuei bem quietinho, como manda a minha profissão, terminei de lavar alguns copos e talheres e já ia secando a pia enquanto ele terminava seu último café.
- Você fica todo dia até esse horário? - Ele me perguntou como quem caça qualquer assunto.
- Não senhor, foi só hoje que estava mais movimentado, mas já estou de saída.
Ele me pagou os cafés e o capuccino que haviam tomado, saiu e quando entrava no carro, percebi que ela à esperava no banco do passageiro.
Fechei o bar e fui para casa dormir um pouco, já eram 4 da manhã e às 6 eu teria que estar ali novamente.
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