terça-feira, 19 de março de 2013

...E então ela sorriu...

Ela sorriu ao me ver chegando, se riu de mim ou se riu para mim não sei dizer, mas como todo bom gaiato preferi entender que ela riu um pouco de mim, mas riu muito para mim, então meu sorriso ficou um pouco maior do que já é e se juntou com o sorriso dos meus olhos e encheu meu peito de uma esperança débil, achei que "agora sim encontrei ela, que tanto procurei".
Falei as besteiras de sempre, não as besteiras que falo para conquistar alguém, mas as besteiras que falo no  meu dia-a-dia mesmo, as besteiras que falo com a família, com os amigos, as besteiras que me fazem ser quem eu sou.
Acho mesmo que ela achou graça, talvez tenha achado que eu inventava besteiras para ser piadista e deixar mais animadas as primeiras conversas, que geralmente são um tanto quanto incômodas, quando a gente vai descobrindo os hábitos das pessoas, quando se descobre os tipos de filmes e os livros prediletos, quando não se espanta, mas se admira com as peripécias cometidas e com as gafes diárias sobre assuntos sem muita importância.
Acho mesmo que ela achou graça - e talvez tenha até gostado de verdade - quando eu lhe disse que não queria nenhuma promessa, que não queria mais fazer planos para o futuro (?) e que não poderia lhe prometer nada além da lua, das estrelas e da minha sinceridade.
Ela sorriu enquanto brincava comigo e brincando me chamava de cachorro sem dono e sorria, e perguntava "das minhas namoradas" e sorria e me fazia elogios que, idiota que sou, não consegui entender se eram verdadeiros ou se eram apenas para deixar mais leves os nossos momentos.
Acho mesmo que eu falei mais besteiras do que poderia, ou que deveria,
e enchia o peito,
e falava alto,
e fazia caras e bocas,
e fazia piadas a todo momento,
e a amava loucamente, como se fosse o último amor do mundo, como se não houvesse nada além daquele momento, como se ela fosse a primeira, a última, a única. E verdadeiramente era isso que eu sentia, sentia que nada existiria além daquele momento, nem pensava na verdade, de verdade, em nada além daquele momento.
Acho mesmo que me entreguei de peito aberto, de sorriso largo, de olhos vivos, brilhantes e sinceros.
Acho mesmo que não fiz e nem queria ter feito, plano nenhum, nem para o futuro, nem mesmo para os próximos minutos, meu único plano era não ser mais um idiota na sua vida, não ser mais um calhorda a lhe dar falsas esperanças, não prometer nada além da lua, das estrelas e da minha sinceridade.
Queria apenas um amor intenso, louco, que me deixasse cansado, sem ar, suado, ofegante, delirante.
Queria apenas oferecer-lhe este mesmo amor, intenso, louco, sem medo, sem amarras, sem obrigações.
Queria apenas que nossos corpos se encontrassem, se amassem, fossem cúmplices e se completassem.
Queria apenas não ser frio, não ter medo, não criar expectativas e deixar a vida correr livremente, como pessoas nuas dançando músicas imaginárias num bosque florido, numa tarde quente de final de primavera.
Acho mesmo que ela achou graça e certo estou de que ela topou a minha cumplicidade,
a entrega,
o sorriso,
as piadas,
o abraço apertado,
o suor,
a intensidade,
a lua e as estrelas.
Acho mesmo que ela não entendeu a parte da sinceridade, dilacerante.
Acho mesmo que falei besteiras demais e sorri mais do que devia e mesmo sendo rabugento, a cativei mais do que devia, mais do que podia.
Sei apenas que nossos tempos se somaram, nossos caminhos se encontraram e seguimos juntos por décadas, séculos, flutuando no infinito, cruzando olhares, entrelaçando os dedos e preenchendo todo o vazio com amor insano, com entrega profunda e sem nenhum plano, sem nenhuma obrigação.
E foi assim que levei a vida, o nosso amor, a nossa cumplicidade e os nossos não-planos.
Então ela se magoou.
Acho mesmo que ela queria alguma coisa que eu não entendi - como pude ser idiota mais uma vez - e que provavelmente não seria - e não sou - capaz  de lhe dar.
Então ela sorriu, virou as costas e foi embora!

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