sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Lembranças do ginásio

Outro dia (uns anos atrás) eu estava num ponto de ônibus lá na Rua do Manifesto, no Ipiranga e um cara grandão, bem alto e fortão (mais gordão do que fortão), branquelo, daqueles que tem as bochechas rosadas, ficou me encarando.
Ele estava bem vestido e tals, cabelo curtinho bem penteado, de óculos escuros com uma pastinha tipo executivo na mão, acho até que estava de gravata.
No começo estranhei, achei que não era comigo, fiquei olhando pro outro lado, mas vez ou outra tinha que olhar na direção do cara pra ver se meu ônibus chegava e ele continuava me encarando.
Era por volta de umas 9h da manhã e comecei a estranhar por quê apesar de não estar olhando feio, ele não parava de me encarar.
Acho que foram os 20 minutos mais longos da minha vida, eu já tinha ficado preocupado, constrangido, já tinha ficado nervoso, tinha achado graça e já tinha ficado preocupado de novo, um monte de gente já tinha chegado e ido embora, um monte de ônibus já tinha passado e o cara continuava ali, me olhando fixamente.
Em dado momento, resolvi encará-lo também, vai saber né, alguma coisa teria que acontecer.
Depois de uns 20 segundos olhando fixamente, ele vem meio sério na minha direção:
"Desculpe a pergunta, mas você não é o Magrão?"
Putz, quem me chama de Magrão tem que me conhecer há muitas décadas (desde 99 não uso mais esse apelido), fiquei um pouco mais tranquilo porquê na época que eu morava no Ipiranga esse era meu apelido mesmo.
Respondi que sim, era eu mesmo, o "Magrão"!
O cara tira o óculos escuros, olha bem de perto e diz:
"Cara, você nunca vai me reconhecer né, é porquê agora eu tô grandão mas continuo branquelo ó, sou eu, o "fulaninho", a gente brigou duas vezes na 6° série, lembra?"
Putz, me lembrei na hora, gelei, na 6° série ele era da minha altura, não era um monstro gigante daquele jeito e eu me lembrei de ter batido bem feio nele. Pegamos suspensão e tudo.
Fiquei sem saber o que fazer, fiquei meio constrangido, dei uma risada amarela e imaginei dezenas de desfecho para aquele encontro aleatório, confesso que até me preparei pra apanhar.
Aí ele chegou perto, me deu um puta abraço de urso, uma risada engraçada e enquanto espremia minha cabeça entre seu peito e sua barriga complementou:
"Nossa mano, a gente era foda no colégio né, aprontava demais, puta saudades daquele tempo, já pensou se eu fosse desse tamanho naquela época."
Rapaz, confesso que fiquei sem ação, conversamos um pouco, ele me falou da vida dele, eu falei da minha, trocamos telefone, logo passou o ônibus dele, logo passou o meu.
Nos vimos mais umas três vezes naquele mesmo lugar (acho que aquele ponto de ônibus era caminho da casa de uma namorada minha) e tentamos combinar uma cerveja que nunca rolou, mas foi bem legal pra vida reencontrar aquela figura depois de tantos anos, dar boas risadas e ver que as molecagens de colégio, apesar de parecerem sérias pra época, eram só molecagens mesmo e que a gente traz pro presente só a parte boa.

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