sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

O bêbado equilibrista

Noitinha gostosa depois de uma chuva em Olinda, estou retornando pra casa, por volta de 21h30 mais ou menos.
Aqui no Largo do Varadouro tem uma tal de Avenida Sigismundo Gonçalves que é basicamente uma lástima para pessoas sem motores.
Existe um semáforo de pedrestes que demora muito para esverdear e depois de certo horário ele fica itermitente, ou seja, azar de pedestres que querem atravessar, porquê as pessoas controlando os motores realmente não páram nunca.
Estava chegando perto da faixa com o semáforo piscante, atento aos carros que vem da curva próxima em alta velocidade quando de repente ouvi o estampido seco de um punhado de carne se chocando contra o metal.
Olhei assustado e consegui ver a cena, a pessoa dentro do carro que vinha em alta velocidade sentido Recife/Janga não viu o pedestre, acertou-o em cheio.
O homem atropelado voou por cima do capô do carro, se chocou com o pára-brisa, rodopiou numa pirueta tripla por cima do teto do carro e se estatelou no chão.
Nesses momentos parece que a vida fica em câmera lenta, você consegue ver todos os movimentos no mínimo detalhe, incrível.
Larguei a bici enconstada no meio fio e entrei na rua, fazendo sinal para os carros desviarem e poder socorrer o atropelado.
Quando cheguei perto, o homem estava todo estrupiado,cortes nos braços, estilhaçoes de vidro pelo rosto e pernas, uma lambança.
Vi que ele tentava se mover, falei de longe para ele permanecer deitado e comecei a perguntar coisas do tipo nome, idade, onde morava, essas coisas que se pode fazer para constatar que a vítima de acidente está ou não lúcida.
Para minha surpresa, o homem se sentou no chão e quando levantou a mão, lá estava o resto do copo de vidro, somente o fundo do copo até metade e ainda um restinho da cachaça lá dentro.
Ele balbuciou poucas e inteligíveis palavras, se deitava, tentava levantar e não conseguia, voltou a ficar deitado, depois sentado, me olhou bem nos olhos e disse: "De boa" e tentou se levantar novamente.
Por sorte (ou não, vejam bem) em menos de 2 minutos passou uma viatura da PM, viram que eu estava desviando o trânsito para uma só faixa utilizando a iluminação da bicicleta, pararam a viatura, desceram e não chegaram nem perto do atropelado, não vieram conversar comigo, nem foram conversar com a motorista, a mulher que atropelou o cara estava em choque, o párabrisa todo quebrado, duas filhas pequenas chorando em choque com o trauma do acidente, fico imaginando o barulho que deve fazer dentro do carro num momento destes.
Mais dois PMs que estavam caminhando se juntaram aos dois primeiros e os quatro ficaram de longe, não atenderam a vítima, não conversaram com a motorista e muito menos comigo.
Fiquei atônito ali, esperei uns 5 minutos pra ver o que acontecia, tudo continuou da mesma forma, com a diferença de que o atropelado conseguiu se sentar com firmeza, colocou o boné por cima da cabeça toda rebentada dos estilhaços e ficou cantarolando qualquer coisa que eu não entendi, mas que fez os PMs rirem.
Desisti de ajudar antes de ficar puto e xingar os PMs que ficam fazendo cara de paisagem nestes momentos, mas que nos últimos dias estão mega-empenhados em dar geral e esculachar todo mundo nas ruas de Olinda e na orla das praias daqui até Paulista, montei na bici e fui pra casa mais atento do que o normal, pensando num velho ditado que diz que se deus existe ele realmente protege os bebuns, só pode.

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