segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Samba sem entonação

Quem não era de muita amizade não entendeu logo de cara o que ele disse.
Quem já o conhecia, seguiu bebericando como se nada estivesse ocorrendo, como se já se aprontasse para fugir para as montanhas antes que...
E a névoa veio, no olhar, no pensamento, entorpecente.
E as pernas pesaram e os ombros dobraram-se, insustentáveis.
Velhas lembranças, silêncio.
Velhas posturas, ilusão.
Um copo se quebrou, ou foi um espelho, e também uma porta, uma garrafa, uma mão, uma cabeça, um coração... cada qual em seu tempo, cada tempo sem sua razão, sem sua lucidez, apenas a razão, entorpecida, deixando cicatrizes.
São como tatuagens, são como intervenções, mas as intervenções são só para mim e são profundas, diretas, silêncio e tormenta, explosão e delírio.
Uma bordoada, como há muito não se via, não sentia, não escrevia.
Um copo vazio no balcão, um corpo vazio, nú, espaço, tempo, delírio.
Corpo duro, pele grossa, riso fácil, coração mole.
Corpo grosso, pele fácil, riso mole, coração duro.
Corpo fácil, pele mole, riso duro, coração grosso.
Corpo mole, pele dura, riso grosso, coração fácil.
E mais uma noite, um pensar, um sonhar, um amar.
E suas intervenções são só para mim.
E são profundas.
E são efêmeras.
E são eternas.

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