sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Carona pra cabeça

Durante a cicloviagem, em uma das mudanças de rota, após o almoço, enquanto buscávamos carona para sair da Bahia e voltar ao roteiro original, e eu até já estava meio cansado por conta do sol forte e da preocupação daquele momento, que era o prazo que tínhamos para seguir viagem.
Pedir carona não é exatamente uma habilidade minha, nada que se possa dizer: "Nossa! Como ele é bom em pedir caronas."
E assim com pouca confiança ia chegando nas portas dos caminhões e falando como os motoristas em frase meio que mecânica até:
"E aí mano, beleza!?
Então, eu sou o Renato, estamos viajando de bicicleta até Recife. A gente tá um pouco atrasado e estamos pedindo uma carona pra adianta alguns quilometros deste percurso."
Às vezes funcionava, às vezes não funcionava, mas é fato que os caminhoneiros se assustavam quando viam as 3 bicis carregadas e o Sebastian alucinado correndo em volta da gente.
E neste dia, depois de mais de duas horas embaixo do sol pedindo carona, cheguei neste caminhão branco, carroceria aberta com menos da metade de pouca carga, boléia grande, poderia dar certo.
O motorista, um coroão com cara de malandro bravo, de regata, cabeça branca, relógio solto no pulso e um bando de correntes no pescoço, ficou me olhando com cara séria enquanto concluía meu texto decorado.
Ao final, me interrompeu com certa aspereza dizendo que "a empresa" não deixava ele dar carona, alías, problema recorrente que encontramos esse de "a empresa não deixar dar carona", o Coroão disse ainda que se pudesse ajudava.
Agradeci, me afastei e voltei à função.
Depois de uns 20 minutos o Coroão liga o motor do caminhão, atravessa o estacionamento, pára bem na minha frente e pela janela pergunta:
- E uns baseados, você fuma?
- Opa! Na hora meu amigo! Respondi antes mesmo dele terminar a frase.
Aí ele desligou o motor do caminhão, mexeu nas coisas do porta-luvas e me estendeu a mão pela janela me oferecendo um punhado de cannabis acompanhado de uma voz séria:
- Eu não posso te dar carona porquê a empresa não deixa, mas pelo menos você fuma aí pra ficar de boa!
Continou com cara séria, ligou o caminhão e partiu na estrada.
Passamos mais algumas horas até conseguir uma carona neste dia, mas o salve do Coroão me rendeu dois baseados e mais esta história pra contar.
Continuo não sabendo pedir carona, mas os béquis continuam chegando mesmo sem eu pedir.
- Da série "Relato Zerbinato" diretamente para o memorial Pedala das Ocupas

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