sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Nova vizinhança

Saudou-me com um sorriso largo e um "Boa Noite!" essa senhorinha que conversava com sua vizinha, sentadas em frente suas moradias na subida do morro, enquanto observavam o movimento ainda frenético dos becos e vielas aqui do Monte.
- "Aliás, Bom Dia! Já passou da meia-noite, né?!"
A sorridente se corrigia e emendava uma pergunta que me deixou (sempre me deixa) de certa forma feliz:
-"Você é Rasta?"
- Eu?!? ( Respondi enquanto num flash tentava recordar minha aparência e "o quê" em mim lembrava um Rastafári enquanto ia subindo o morro naquela hora da madrugadinha, empurrando uma Cecizinha preta-colorida com o guidão lindamente adornado de fitilhos multicoloridos, de chinelos, bermuda, regata, de boinha embaixo da minha boininha.)
Estranhamente não é a primeira vez que uma pessoa total desconhecida me chama de "Rasta".
Confesso que gosto e me sinto de certa forma lisonjeado quando me familiarizam com a cultura Rastafári.
Eu retribui com um sorriso mais largo que o dela e a respondi:
- Acho que sou Rasta, sim, mas ainda não tenho o cabelo rasta."
- "Você parece um rasta mesmo, tá indo pra onde? Conhece os meninos aí?" (Perguntou enquanto apontava a entrada do Circo do Monte).
- Conheço eles sim, temos amizade, mas estou indo pra casa, acabei de me mudar pra cá, preciso subir esse beco do circo e subir ali pra entrada da rua.
-Eita! Você ainda tem que subir até lá!"
- É tranquilo, nóis tá indo pelo bem.
A senhorinha sempre sorridente me segura por mais uns minutinhos na curiosidade de conhecer o novo vizinho.
Batemos um papo rápido, me despedi e ao recomeçar meu caminho pra casa ela me saúda novamente e abençoa:
- "Boa Noite! Rasta. Vai com Deus! Seja bem-vindo à nossa favela!"
- Amém! Boas noites! Boa prosa pra vocês.
Falei meu nome e segui feliz meu caminho. Na curva após o beco do circo já avistei a raposinha, deitada, dormindo na viela de chão batido enquanto me esperava chegar. Quando me percebeu, levantou, latiu, desceu a ladeira em festa arrastando uma nuvem de poeira atrás de si e deixando metade disso tudo na minha roupa enquanto pulava alucinado, me mordendo, lambendo e se debatendo loucamente em mim. É, é assim que a raposinha me recebe todas as vezes que retorno pra casa.
Digo tranquilo que dia bom, Rasta, é o que começa com uma noite boa.
Benditas noites!
Bendito Amor!
INI

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